Armadilhas do Intelectualismo: a sala da instrução

O filósofo
4 min readJun 13, 2023

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Uma ilustração feita por IA sobre a sala da Instrução

Tópicos

  • Introdução
  • Informação não é conhecimento
  • O excesso de informação
  • O viés retrospectivo
  • Conclusão

Introdução

Há um grande problema no excesso de intelectualismo. Muitas pessoas não entendem que o intelecto é uma ferramenta limitada em termos de realização. A supervalorização designada à mente contribuiu para esse tipo de visão onde sonha demais e realiza de menos. Já existe uma revolta com relação a isso, mas o contraponto, em muitos casos, é o outro lado da moeda: tenta-se demais e continua realizando de menos. Isso me lembrou a sala da instrução.

A sala da instrução, que faz parte do título deste artigo, é a segunda sala do livro “A voz do silêncio” de Helena Petrovna Blavatsky. Ela diz que nessa sala é onde o discípulo é instruído, mas que não deve buscar a sabedoria nela. Comenta que há inúmeras rosas e que, em cada uma delas, existe uma serpente enrolada. Deixa claro com isso que na instrução não existe sabedoria.

Informação não é conhecimento

Com a internet veio uma enxurrada de informações. Numa era pré internet a informação era muito escassa. Por este motivo foi supervalorizada. Mercado é mercado! O excesso de informação porém, não nos tornou mais sábios. Em muitos casos, nota-se uma atrofia mental para a busca de algo realmente satisfatório. Para quem previa uma era de muita prosperidade devido a informação, ela ainda não apareceu.

A dificuldade que existe entre saber se uma informação é certa ou não está ficando cada vez mais difícil. As fake news são um exemplo muito eficaz desse processo. Quem aqui nunca foi enganado por uma notícia falsa? Com o tempo, e com o advento das inteligências artificiais, as referências mudam num piscar de olhos. A falsa informação consegue se travestir de uma credibilidade para atingir cada vez mais gente no mundo conectado.

Acredito que todos entendam que as fake news sempre existiram. Mas a potencialização desse tipo de prática tornou a internet um lugar selvagem em termos de conhecimento. Acontecimentos no mundo foram beneficiados por disseminação falsa de informação. Muitas pessoas acreditaram no que foi divulgado para que muito tempo depois fosse examinado. Um outra parte das pessoas perderam completamente a fé em qualquer tipo de notícia. A blindagem foi feita de forma a “não ser mais influenciado” através não interação.

Quando a wikipedia foi lançada dizia-se que ela superaria as enciclopédias em pouco tempo em termos de informação e erro. O que não disseram, foi que jamais numa enciclopédia poderia aparecer uma fake news tão estúpida ou um erro tão crasso como na wikipedia. Claro que existem mecanismos de combate a esse tipo de desinformação atualmente. Isso não justifica a volta aos livros atualizados de tempos em tempos com informações que já na sua publicação estão mudadas.

Informação não é conhecimento. Isso precisa estar claro.

Diagrama sobre o caminho dos dados até virar “sabedoria” — Fonte — mobimais

O excesso de informação

O mundo antigo sempre falou em uma justa medida. O budismo fala em um caminho do meio. Outras doutrinas e correntes filosóficas tem a sua maneira de dizer isso. O excesso de informação torna-se um problema quando passa a ser prejudicial as boas ações assim como a sua ausência.

Recentemente estava fazendo uma pesquisa no aplicativo do Ifood. A quantidade de coisas a serem escolhidas e as opções me deixaram atônito. Fiquei paralisado sem saber o que escolher. De fato parece ser muito bom ter inúmeras opções, mas será que isso é prático? Me perguntei também se isso já tinha ocorrido com alguém.

Felizmente há um livro com a minha resposta. Chama-se “o paradoxo da escolha” de Barry Shwartz. Nele há uma explicação sensata do porque menos é mais! Além disso, deixa claro que o ser humano tem uma capacidade limitada de processamento de informação. Por lógica também possui a mesma limitação na interação com o ambiente.

Se você não consegue processar a informação que recebe, ela é inútil.

O viés retrospectivo

As inteligências artificiais, que não são tão inteligentes assim, são um exemplo de utilidade do viés retrospectivo. O viés retrospectivo nada mais é do que uma conclusão depois que o fato aconteceu. Tem seu valor a longo prazo, mas não serve para prever muita coisa. É como um planejamento de coisas passadas. É útil em caráter informativo.

Dada a complexidade das coisas, tentar adivinhar o futuro é simplesmente uma tarefa hercúlea. Não vou dizer impossível porque a humanidade caminha em passos lentos, mas caminha. Mas a falta de clareza de que o passado não determina o futuro já foi demonstrada inúmeras vezes. O fenômeno do Cisne Negro, do livro homônimo do Taleb, é o claro exemplo de que a ampla disponibilidade de informação é ineficaz nesses casos.

Conclusão

Eu espero que uma coisa tenha ficado exposta: se você procura se informar para ter conhecimento está no caminho errado! É similar a uma aula teórica, com se um monte de informação sobre andar de bicicleta fizesse de você um especialista sem nunca ter andado em uma. Há muita coisa além da informação: a realidade.

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Filosofia, matemática e ciência da computação

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